Mudança no gene faz com que rato silvestre se apaixone!

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O amor muda de fato o funcionamento do cérebro – ao menos isso é o acontece com o arganaz do campo. Pela primeira vez, pesquisadores demonstraram que o ato de acasalar induz a alterações permanentes na constituição química dos cromossomos, o que afeta a expressão dos genes que regulam o comportamento sexual e monogâmico. O estudo foi publicado no periódico Nature Neuroscience.
O arganaz do campo (Microtus ochrogaster) tem interessado neurologistas e endocrinologistas que estudam o comportamento animal há bastante tempo, em parte porque os membros dessa espécie formam pares monogâmicos que vivem juntos por toda a vida. O relacionamento estável monogâmico, o intercâmbio de funções parentais e a construção igualitária do ninho pelo casal são características que tornam essa espécie um excelente modelo para a compreensão da biologia da monogamia e da união entre humanos.
Estudos anteriores demonstraram que os neurotransmissores oxitocina e vasopressina exercem uma função importante como indutores e reguladores na formação da união monogâmica. Os membros dessa espécie que estão em uma relação monogâmica são conhecidos pelos níveis altos de receptores desses neurotransmissores em comparação com os que ainda não acasalaram. Também é conhecida a mudança de comportamento de seu parente próximo, o promíscuo arganaz da montanha (Microtus montanus), que passa a adotar um comportamento monogâmico quando recebe doses dos mesmos neurotransmissores.
Como o comportamento parecia ter papel ativo na alteração neurobiológica dos animais, os cientistas suspeitaram que estivessem envolvidos fatores epigenéticos. Esses fatores são alterações nos cromossomos que influenciam na forma como os genes são transcritos ou suprimidos, diferentemente de alterações nas sequências dos genes.
Poção do amor
Em busca de pistas de agentes epigenéticos que atuassem no comportamento monogâmico, o neurologista Mohamed Kabbaj e sua equipe da Universidade do Estado da Flórida, em Tallahassee, usaram arganazes que ficaram juntos por seis horas sem acasalarem. Os pesquisadores injetaram substâncias químicas próximo a uma região do cérebro chamada núcleo acumbente, que está estreitamente associada a estímulos de recompensa e prazer. As drogas bloquearam a ação de uma enzima que normalmente mantém o DNA firmemente enrolado, evitando, dessa forma, a expressão do gene.
A equipe descobriu que os genes dos receptores de vasopressina e oxitocina tinham sido transcritos. Consequentemente, os núcleos acumbentes possuíam níveis altos desses receptores. Os animais que puderam acasalar também possuíam níveis altos desses receptores, o que confirmou a associação entre união estável monogâmica e atividade genética.
'O acasalamento ativa essa região do cérebro que dá origem à predileção pela união. Essa mesma alteração do cérebro pode ser induzida com essa substância', explica Kabbaj.
Curiosamente, somente a injeção não é capaz de induzir a preferência por união. 'A droga sozinha não consegue realizar todas essas modificações; é necessário que haja um contexto: a droga e seis horas de habitação conjunta', afirma Kabbaj.
'Eu mesmo quis realizar esse estudo anos atrás', afirma Thomas Insel, diretor do Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos, em Bethesda, Maryland. 'Se o acasalamento gera a liberação do neuropeptídeo, de que forma isso desfere um estímulo para toda a vida? Em minha opinião, esse estudo é a primeira demonstração empírica da necessidade de uma alteração epigenética para que haja mudança comportamental de longo prazo.'
'Esse artigo demonstra que existe de fato um mecanismo epigenético subjacente às uniões estáveis, pelo qual temos procurado sem sucesso', afirma Alaine Keebaugh, da Universidade Emory de Atlanta, Georgia, que estuda o arganaz do campo sob o ponto de vista neurocientífico.
Kabbaj diz estar esperançoso de que o estudo melhore com o tempo a compreensão de como os fatores epigenéticos afetam o comportamento social dos seres humanos, não apenas no que se refere à monogamia e às uniões estáveis, mas também em desordens como o autismo e a esquizofrenia, que influenciam nas interações sociais.

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